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escolhidos por MARIA PINTO
(Maria Regina Pinto Pereira)

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quarta-feira, 14 de setembro de 2011

"Artista é tudo vagabundo e trabalha de graça"

http://blogs.estadao.com.br/tragico-e-comico/2011/07/17/artista-e-tudo-vagabundo-e-trabalha-de-graca/

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Artista é tudo vagabundo e trabalha de graça

  • 17 de julho de 2011|
  • 6h00|
O que é arte, afinal? Quero falar de arte hoje, mas num universo bem amplo, do qual eu e um zilhão de arteiros freelancers fazem parte: cartum, caricatura, ilustração, artes plásticas, design gráfico, infografia, etc. Arte é um conceito tão abstrato que a maioria das pessoas acha que não faz sentido pagar por algo que elas não consideram um “serviço”. Desde que o mundo é mundo, 99% da humanidade acha que arte não é (ou não pode ser) profissão, só hobby. Logo, quem está desenhando, está só se divertindo — e quem insistir em “trabalhar” com arte, é porque é vagabundo. Assim sendo, eu sou um vagabundo. E se você desenha, você também é. Pouco importa se você trabalha que nem um camelo e pouco importa quantos cursos você fez ou quantos prêmios ganhou. No final das contas (com bastante trocadilho), essa é a maneira como somos vistos pelo mundo.
O curioso é que essa é mais uma unanimidade burra que o homem médio criou para, logo em seguida, cair numa contradição: não, ele não valoriza mesmo a arte — e tampouco está disposto a pagar por ela —, mas ele aprecia a arte. Deu para entender? Funciona assim: basta achar um cretino que faça uma arte de graça e convencê-lo a trabalhar em troca de “divulgação”. Artistas dos mais variados matizes recebem diariamente ofertas irrecusáveis como essa. É uma aventura edificante estudar as técnicas de abordagem dessa galera que quer (ou melhor, “precisa” — e “pra ontem”) de uma arte, mas “não tem verba”. Uns tentam forjar uma “parceria”, onde ambos supostamente estarão “investindo”. Tipo aquele “editor” de portal ou site que está “crescendo e ganhando cada vez mais leitores” e precisa de “gente talentosa para fornecer conteúdo” (alguns sofisticaram essa abordagem, sugerindo um “linkbuilding para ambas as partes”). Outros chegam se derramando em elogios, enaltecendo o seu traço, sua técnica, suas cores e… “aproveitando a oportunidade, preciso de um desenho… nada muito complicado, para não tomar seu tempo”. Se já é bom não tomar muito do meu tempo, melhor ainda se não tomar tempo nenhum, né? Mas tem também o visionário. Aquele cara que está montando uma banda de pagode-sertanejo-axé-universitário que vai “bombar” e precisa de um logo, um site e, se bobear, uma capa de disco. Isso sem falar da turminha do “me desenha”… De graça, claro — afinal, é sempre muito divertido passar o fim de semana trabalhando para os outros sem receber um tostão por isso.
No final, pouco importa a abordagem, já que a finalidade é sempre a mesma: “trabalhe de graça para mim — em troca eu vou te catapultar ao total estrelato”. A situação está sendo subvertida a tal ponto que, se o artista recusar a “oferta”, chega-se a uma estranhíssima inversão de papéis. De repente é como se o artista devesse agradecer aos céus por uma oportunidade como essa (quiçá ele até terá de pagar para poder publicar em um espaço tão ilustre que ninguém lê, nem compra e nem acessa). Enfim, desculpa aí qualquer coisa… Mas claro que uns aceitam trabalhar de graça. Outros aceitam fazer por qualquer “déiz real”. Todos unidos pelo amadorismo e pela má qualidade de seus trabalhos, atravessando o caminho de profissionais sérios do mercado. Então, se você é um profissional em busca de espaço, reconhecimento (e pagamento, claro), o que fazer no meio de toda essa pobreza? Se matar? Não ainda, pois surgiu um cara que vai nos guiar por essa estrada esburacada, sem sinalização e sem destino. Um cara que não fica impassível ou intimidado diante de um pedido de “um desenhinho”. Um cara que sempre sabe encontrar a resposta mais irônica e sarcástica (sem deixar de ser elegante) — enfim, a resposta ideal — aos que nos oferecem aquela irrecusável oportunidade de trabalhar por divulgação.
Luis Di Vasca é o libertador de todos os artistas e freelancers, constantemente marginalizados e vilipendiados pelo establishment. Sua cruzada contra a obtusidade e o torpor mental do homem médio é comovente e enche a classe artística de orgulho. Portanto, é meu dever retribuir esse “linkbuilding”. Acessem e aprendam com o nosso herói: http://divasca.blogspot.com/
Leia também:
Os 10 mandamentos para o jovem artista
Entrevista com Di Vasca

 

Entrevista: Di Vasca


Na tragi-crônica da semana passada, você ficou conhecendo o Luis Di Vasca, que se tornou o herói libertador de toda uma classe artística que está de saco cheio de receber ofertas de trabalho em troca de divulgação. Não surpreende que ele tenha conquistado tanta popularidade em tão pouco tempo de vida no blog e no Twitter, a ponto de se tornar uma autoridade no assunto. Com suas respostas cortantes e seu peculiar sarcasmo, ele nos mostrou que é possível um mundo onde o artista é levado a sério e respeitado como profissional. E isso tem um preço bem barato (na verdade o custo é zero): basta recusar qualquer oferta para trabalhar de graça. Além de trazer um importante alerta para artistas em início de carreira, Di Vasca parece ter se tornado um novo balizador para a classe artística, que finalmente despertou para o fato, após um longo inverno. Seus posts são verdadeiros balaços na testa de clientes espertalhões e os obrigam a enxergar dois tristes fatos: 1) sim, você está explorando um artista morto de fome e 2) sim, você está extorquindo dele a única coisa que ele tem para vender.
Agora chegou o momento de conhecer um pouco mais de perto a faceta do homem. Em entrevista reveladora, Di Vasca aborda a repercussão de seu blog, fala da miséria atual do mercado de freelas, da falta de união da classe artística e deixa sua mensagem a arteiros e vagabundos de plantão…
1) Di Vasca, não é segredo que você troca os nomes dos e-mails em seus posts (para evitar dores de cabeça), mas muitas pessoas têm questionado a veracidade do conteúdo do blog, tamanho o surrealismo de seus posts. Para esclarecer: todos aqueles e-mails são reais, inventados ou são como filmes baseados em fatos verídicos?
É como sempre digo: nunca duvide do surrealismo que a realidade pode nos proporcionar. Sim, sempre tomo cuidado para colocar pseudônimos nas “vítimas”. Quanto aos desenhos, se a pessoa pagou pelo trabalho e realmente usou o desenho em questão, eu tomo o cuidado de fazer um novo ou então pegar outro qualquer nos meus arquivos (caso do post sobre caricaturas de casamento), caso contrário uso o mesmo desenho que enviei para a pessoa (que foi o caso do bicho-papão). Mesmo assim, algumas vítimas já tentaram me dar dor de cabeça com o argumento que estou “expondo-as ao ridículo”, que “vai procurar a justiça”, etc. Minha resposta é simples: “Se quer procurar a justiça, então eu posto seu nome real e não um pseudônimo, assim terá mais chances de ganhar, o que acha?”. Infelizmente, nenhuma concordou até agora.
2) No antológico post do gatinho, você refez a arte e entregou à cliente diversas vezes. No final, você acabou trabalhando mais do que se tivesse levado a cliente a sério. O que o motiva a perseguir os idiotas tão incansavelmente?
Existe essa ideia de que o artista somente o é por ser vagabundo ou preguiçoso. Quando percebo que alguém não está respeitando o meu trabalho, não tenho problema em trabalhar mais que o dobro do que eu trabalharia, somente pra deixar claro o meu ponto.
3) Depois de ter recebido tantas ofertas de trabalho em troca de divulgação, qual é a avaliação que você faz após de ter sido tão divulgado? Alguém importante chegou até você em consequência dessa massiva divulgação?
Caro Diogo, você sabe que qualquer pessoa que se aproxima de um ilustrador será alguém importante com uma possibilidade inacreditável de projetar seu nome às alturas (talvez além da via láctea). Porém, digo que, após o blog, tenho recebido pelo menos 98% menos pérolas, e os contatos de freelas sérios e realmente praticáveis aumentou bastante. Mas não, nunca existirá essa importante entidade que projetará seu nome. Isso é uma grande mentira que as pessoas ainda acreditam.
4) Você tem recebido muitos elogios pela coragem com que enfrenta a obtusidade da clientela em geral. Apesar de tudo, muitos artistas soltam aquele sorriso amarelo e continuam trabalhando de graça (ou por alguns trocados). Você acha que falta colhão para a classe artística de um modo geral?
Não incentivo pessoas a fazer o que eu faço, pois cada um tem sua forma de lidar com a parte boa e ruim do trabalho. A iniciativa do blog foi de alguma forma agregar profissionais da Arte em geral, e mostrar para eles minhas experiências, deixando claro que isso é uma constante e que este cenário somente mudará se nós mesmos começarmos a respeitar o nosso trabalho. E espero que as pessoas talentosas nunca mais caiam nas mãos de picaretas que prometem holofotes com suas obras espalhadas pelos pontos turísticos do planeta, e uma multidão de fãs enfurecidas e descontroladas disputando aos arranhões um pequeno pedacinho de sua atenção. Não acho que falta colhão, diria que falta união, para que este tipo de situação não mais se repita.
5) Uma outra vertente, muito parecida, é a dos “artistas déiz real”, que inflacionaram o mercado e se tornou um jabá que dificulta a vida de milhões de “artistas-divulgação” pelo Brasil. Do jeito que a coisa está caminhando, pode chegar o dia em que a divulgação custe dinheiro?
Já tenho uma pérola assim nos meus arquivos — e não é recente hein!, ela data de 2006. O rapaz entrou em contato comigo dizendo que tinha uma empresa que faria divulgação massiva do meu trabalho em troca de uma “simbólica contribuição”. Somente não postei no blog porque não houve uma sequência na conversa a ponto de ficar engraçado. Essa situação é tão preocupante quanto seria esperançoso o resultado de uma união dos profissionais da área. Se ninguém que seja realmente talentoso aceitar mais se submeter aos “fabricantes instantâneos de nome” ou no engraçadinho disposto a investir “déiz real”, a classe inteira se valoriza e todos ganhariam muito mais. E que fique claro ao mercado que, salvo por alguns motivos de inexperiência, quem cobra “déiz real” não é talentoso e nem profissional.
6) Quando um cliente que tem uma vaga consciência de que um trabalho deve ser pago lhe pergunta “o que dá pra fazer com cem reais?”, qual é a sua reação? Digamos que o trabalho é uma caricatura. Você acha que desenhar só a orelha é uma boa saída? Qual é de fato o magnetismo desses “cem reais” na cabeça de um cliente atormentado?
Pois é, meu caro Diogo. Como é impressionante a quantidade de gente que julga os cinquenta ou cem reais um valor justo e muito bem pago para um “desenhinho”. Algumas pessoas me perguntam sobre o valor justo, eu respondo que existe uma tabela, mas como qualquer negociação, cada um está livre pra praticar o seu preço. Eu unicamente chamo atenção ao fato de que estamos tratando de um processo artístico e criativo aqui, e que não podemos nos desvalorizar a esse ponto. Digo que dá pra fazer muita coisa com 100 reais, inclusive nesse post que você citou eu indiquei um festival de sushi sensacional. Teve uma outra vez que indiquei até uma trepanação.
7) Para encerrar, o que você tem a dizer aos infelizes que ainda querem pagar trabalho com divulgação? E o que você tem a dizer aos que de fato trabalham em troca de divulgação? E aos proto-artistas de “déiz real”?
Aos infelizes eu tenho a dizer que não percam tempo comigo e que usem todo esse poder de divulgação para encontrar pessoas desaparecidas. Aos artistas, se forem realmente talentosos e dedicados, digo que nunca mais se submetam a isso. E se for só um espertinho que acha que trabalhar com arte é fácil, que aprendeu Photoshop ou Illustrator em tutoriais da internet e que vende suas horríveis garatujas em troca de 10 reais, eu digo pra fazer uma cirurgia cerebral comigo. Aprendi a fazer essa cirurgia em tutoriais da internet e comprei as serras e os bisturis em um mercado de pulgas. Só vou cobrar 10 reais também.
* nota tragicômica: em troca dessa maravilhosa entrevista, prometi pagar ao Di Vasca com a enorme divulgação que esse blog lhe traria, mas ele não aceitou. Aí paguei déiz real e ficou tudo certo…

Um comentário:

Anônimo disse...

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