Em crise, museu Guggenheim estreita laços com Brasil e Ásia
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SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO
DE SÃO PAULO
Depois de fechar sua sede em Berlim e adiar para 2017 a construção de um espaço monumental em Abu Dhabi, o Guggenheim está de olho nos países emergentes --com foco especial no Brasil.
Num movimento análogo ao de outros grandes museus, como a Tate, de Londres, o Reina Sofía, de Madri, e o Pompidou, de Paris, o Guggenheim agora pretende estabelecer uma rede de curadores associados em países de África, Ásia e América Latina para engordar seu acervo com obras dessas regiões.
"Somos um museu global, e isso implica estarmos conectados com essas partes do mundo", diz Richard Armstrong, diretor do Guggenheim, à Folha. "Respeitamos as instituições do Brasil e queremos estar informados para colecionar obras de artistas mais jovens do país."
Não é a primeira vez que o Guggenheim centra as atenções no Brasil. Em 2001, uma mostra dedicada ao país, "Brazil Body & Soul", levou obras de Aleijadinho, Portinari, Di Cavalcanti e de neoconcretos como Lygia Clark e Hélio Oiticica a Nova York.
Chester Higgins Jr. - 23.set.08/The New York Times | ||
Richard Armstrong, retratado na sede do Guggenheim em Nova York |
"Com o reconhecimento de artistas brasileiros no mercado global, o país avança num cenário não mais restrito aos latinos", afirma Sullivan. "A força do Brasil é um dos aspectos mais relevantes da cultura visual do Ocidente."
Talvez por isso, Armstrong chega a dizer hoje que considera museus do país, como a Pinacoteca do Estado, instituições parceiras no mapeamento da cultura contemporânea que quer realizar.
"Só porque eles não têm Kandinsky no acervo, não vamos dizer que não estejam à nossa altura", diz Armstrong. "Não queremos repetir modelos coloniais já usados no passado, buscamos agora um diálogo de igual para igual."
Nessa conversa, a intenção do Guggenheim é descartar grandes mostras panorâmicas, baseadas em recortes geográficos, para pinçar artistas pontuais que terão presença mais forte e aprofundada na coleção do museu.
"Não estamos interessados pelo que o MoMA está fazendo, ou o Museu de Belas Artes de Houston", diz Armstrong. "Vamos levar esse programa do jeito Guggenheim, que tem um olhar mais afiado em busca de menos artistas para trabalhar de forma mais precisa com cada um. Serão menos autores, só que com muito mais presença."
TEMPOS DIFÍCEIS
Abalado pela crise --o Deutsche Bank cortou o patrocínio para o braço alemão do Guggenheim-- e às voltas com o escândalo de denúncias de violações de direitos trabalhistas nas obras de sua sede em Abu Dhabi, o museu de Armstrong parece ver agora uma saída do buraco em laços com os emergentes.
Embora o patrocínio desse programa de expansão global seja da firma suíça UBS, a marca do museu estará presente em cenários onde o campo da arte contemporânea está em franca expansão.
Armstrong nega, no entanto, que esse interesse por mercados em desenvolvimento seja motivado pela crise econômica que abala os países mais ricos há quatro anos.
"Não vejo isso como um sinal da crise", diz Armstrong. "É o oposto disso, é um sinal de que estamos mais confiantes e curiosos, mostrando que o chamado mundo desenvolvido agora se permite olhar de outra maneira para muitas coisas. Isso é positivo."
Ele diz que a ideia é "aprender" com essas regiões. "Não vamos a lugar nenhum procurando riqueza", diz Armstrong. "Também podemos dar algo de nós nessa troca."
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