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escolhidos por MARIA PINTO
(Maria Regina Pinto Pereira)

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sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

mulheres de fibra



Uma mulher de fibra

Como o artesanato proporcionou a superação de Cleide Toledo e
a transformou numa empreendedora
Por Itã Cortez
Comunicação DEP/Sutaco

“...Sexo frágil, não foge à luta...”, e não foge mesmo. Este trecho da canção “Cor de rosa-choque” de Rita Lee e Roberto de Carvalho representa bem a atitude de Cleide Toledo, mulher, artesã, viúva e mãe de dois filhos, diante do que a vida lhe impôs.
Residente na Vila Esperança, Zona Leste de São Paulo, assim como o nome do bairro que a abriga, Cleide precisou muito desse sentimento, de quem vê como possível a realização daquilo que deseja, para superar as adversidades.
Quis o destino que o seu arrimo, Manoel Baptista Neto, esposo e mentor, partisse antes dela. Mas, para entendermos a importância de Manoel na vida de Cleide e a responsabilidade dele na construção da mulher que ela é hoje, temos que retroceder no tempo.
Cleide e Manoel viveram uma verdadeira história de amor, onde a cumplicidade, o respeito e a admiração de um pelo outro foram fundamentais para a relação. Falar sobre Manoel não é tarefa fácil para Cleide; seus olhos marejados passam a intensa devoção que ela tinha pelo marido.
Cleide tornou-se artesã por acaso. Ela atuava na área de saúde e conheceu Manoel no banco de sangue no qual trabalhava. Eles casaram e ela abdicou da carreira para ajudá-lo no ateliê de artesanato. Com o marido artesão, especialista na arte da escultura em trançado de taboa, ela começou a ir para o brejo, cortar e limpar a palha, além de tratá-la para a produção das tranças que serviriam para a confecção das peças pelo Manoel.
“Ele falava que ia me transformar numa artesã, eu replicava que era impossível fazer o que ele fazia com o trançado, tamanha era a complexidade daquilo pra mim”, diz Cleide. Mas ela já estava totalmente envolvida. No início fazia apenas cestaria, depois, à medida que foi adquirindo experiência com o trançado, começou a produzir a parte de mobiliário, enquanto Manoel se concentrava na escultura.
Manoel foi um grande artesão do trançado de taboa e também pintava, esculpia, trabalhava com metal e madeira. “Ele tinha um grande amor pela profissão, por isso eu não vou deixar isso aqui”, diz Cleide enfática. “Às vezes ele estava cansado e dizia que não ia trabalhar, mas, de repente, ele sumia; quando percebíamos, ele estava no ateliê”, revela.
Segundo Cleide, Manoel dizia que ela precisava trançar palha porque ele iria embora antes dela. Ela discutia, dizia que não, que era ela quem iria embora antes e assim resistia a aprender. Mas a insistência dele a convenceu.
Certa vez, diz Cleide, eles ministraram um curso de trançado e Manoel não pôde comparecer, ela então, teve que assumir as aulas. Foi quando percebeu que, aos poucos, estava assumindo o lugar do marido.
Manoel sofria de uma infecção crônica na perna, agravada pelo contato com a água do brejo no corte da taboa e, nas ausências dele para tratamento, Cleide precisou assumir o ateliê sozinha. “O brejo não era problema para mim, mas assumir os compromissos do ateliê, sim. Nós tínhamos encomendas e precisávamos entregar no prazo. Às vezes eu chorava, mas não desistia”, revela lacônica.
Com o agravamento da doença de Manoel ela ficava muito dividida entre o hospital, a casa e o ateliê. Mas não esmorecia. Ela conta que acordava cedo, ia para o ateliê e, à tarde, ao hospital fazer companhia ao marido, voltava pra casa e dava um segundo turno à noite na oficina até as 3h da manhã. Àquela altura Cleide já estava totalmente responsável pela casa, pelo ateliê e pela família.
Manoel, mesmo doente, acompanhava o sucesso da mulher. Ela estava conseguindo produzir peças para atender as encomendas. “Ele achava fantástico eu traçar a palha. Certa vez ele disse: ‘Tá vendo? Você conseguiu!”.
Cleide narra um dos episódios mais importantes, segundo ela, quando Manoel estava acamado: “Ainda na cama, em casa, após uma das saídas do hospital, eu o ajudei a confeccionar um vaso de 1,20 m e, ao término deste, ele falou chorando: ‘Eu consegui, hoje eu posso morrer sossegado porque você vai conseguir fazer qualquer peça minha”. Era o reconhecimento do mestre.
Daí a frente Manoel não pôde mais ir para o ateliê. Após a morte dele, Cleide entrou em depressão, foi para o interior e lá os seus familiares diziam que ela não podia voltar pra São Paulo, mas ela deu a volta por cima, afinal tinham as encomendas do ateliê e os filhos precisavam dela firme e forte naquele momento.
Ela revela que não se arrepende nem um pouco de ter abandonado a carreira na área de saúde para se dedicar ao artesanato. “Não sinto falta do que eu fazia. Eu cursava faculdade, era responsável pela parte de coleta, derivados e sorologia no banco de sangue. Fiz cursos para atender pessoas soropositivas. Provavelmente eu estivesse bem. Mas eu aprendi a amar o artesanato”, fala com entusiasmo sobre esta decisão que mudou a sua vida definitivamente.
“Meu genro quer que eu vá embora, para ficar mais próxima deles, em Amparo. Mas eu não consigo abandonar o estúdio, o legado do Manoel. Eu nunca vou ser como o Manoel, mas outras coisas eu quero levar adiante. Artesanato para mim é amor, é dedicação, além da lembrança que tenho dele”, diz.
O dia dela começa às 5h30 da manhã e, após cuidar da casa e dos filhos, dirige-se ao ateliê, que fica na parte da frente de sua casa, e só sai de lá quando consegue terminar todas as peças para atender encomendas. Uma vez por semana ela vai ao brejo cortar taboa.
Cleide retira a matéria-prima em brejos nas rodovias Ayrton Senna e na Fernão Dias. Ela ganhou a concessão da Eletropaulo para explorar um terreno por cinco anos e possui autorização do Ibama para produzir e comercializar peças com a fibra vegetal. Ela começa a colher a taboa na parte da frente do terreno porque, quando chega no final, a que foi colhida nas semanas anteriores já recuperou a folhagem. O próprio sistema de revezamento dos locais, em si, permite a recuperação da planta.
Cleide corta a taboa e carrega os feixes nas costas até a perua. Como os terrenos são alagadiços, dificilmente o veículo consegue aproximar-se da área de corte. Esta é, talvez, a parte mais difícil do trabalho, porque requer força física e disposição. Às vezes ela trabalha sob sol ou chuva.
Depois de colher a taboa ela leva os feixes para o estúdio e inicia o processo de limpeza e secagem para em seguida fazer o trançado. As tranças são feitas seguindo a metragem que será utilizada nas peças. Para cada tipo de produto Cleide tem que fazer uma espessura de trança que permita ter a flexibilidade adequada para dar os contornos específicos da peça.
“Manoel foi me preparando para tudo isso sem eu saber e foi vibrando à medida que eu conseguia. O medo dele era morrer e não deixar aprendizes. Ele deixou modelos desenhados, com as medidas, quantificou, numerou toda a seqüência de peças. Deixou a proporcionalidade com a funcionalidade de cada peça”, diz Cleide sobre a descoberta que fez, involuntariamente, após a morte do marido.
Devido à qualidade e beleza do seu trabalho, Cleide apresenta-se em programas de TV, tem peças divulgadas em revistas de decoração, além de participar de feiras em todo o Brasil e no exterior. Hoje ela mantém a casa e a família com a produção do ateliê, mas pensa em incrementar o negócio.
Em parceria com a designer Fernanda Vilas Boas, pretende expandir a comercialização das peças para o mercado nacional e europeu. Já está em projeto a construção do site e contatos estão sendo feitos em países da União Européia. Já há encomendas feitas por clientes da Holanda. A parceria com Fernanda se dá com a exposição e venda das peças do ateliê, além da produção de peças em conjunto.
Cleide tem um amplo rol de clientes importantes. Ela fornece para decoradores, arquitetos, designers e lojistas. Em São Paulo há peças na Tânia Bulhões Home, importante loja de decoração da capital, além da Breton e da Jacaré do Brasil.
Ela pretende, ainda, contratar pessoas – um cortador de palha e um trançador - e mais duas pessoas para ajudá-la no ateliê. “Nunca tenho peça sobrando, vendo tudo o que produzo e quero, preciso expandir, porque o mercado exige”, decreta.
As palavras de Rita Lee, da mesma canção que abre este perfil, se fazem necessárias mais uma vez: “...Gata borralheira, você é princesa, dondoca é uma espécie em extinção, por isso não provoque, é cor de rosa-choque.”
Cleide Toledo é um exemplo de superação e de mulher que, mesmo tendo sofrido muito na vida, nunca retrocedeu, não entregou os pontos e esteve sempre aberta para o desconhecido e pronta para superá-lo com amor e trabalho.

Serviço
Studio Palha Brasil
Endereço: Rua Equici, 281, Vila Esperança, São Paulo - SP
Informações: 55(
11) 2682-6810/7402-2894
              palhabrasilartes@gmail.com
              studiopalhabrasilartes@hotmail.com
Comunicação DEP/Sutaco
Contato: Itã Cortez (Estagiário de Jornalismo)
Tel.: 55 (11) 3241-7332
Fax: 55 (11) 3241-7328

SUTACO

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Criada no mês de maio de 1970 ganhou o nome de Superintendência de Comunidade do Trabalho, mas em 1975 o Governo do Estado de São Paulo, preocupado em desenvolver e preservar a riqueza do artesanato paulista - que traduz a diversidade do Estado mais miscigenado do país - alterou a denominação para SUTACO (Superintendência do Trabalho Artesanal nas Comunidades).
A SUTACO é uma autarquia vinculada à Secretaria do Emprego e Relações do Trabalho - SERT, e lhe foi atribuída a responsabilidade social de oferecer oportunidades de geração de emprego e renda aos artesãos. Deste modo, também resgata as formas tradicionais de expressão do povo paulista promovendo o desenvolvimento regional no contexto do mundo globalizado.
No exercício de sua atividade, o artesão enfrenta sérias dificuldades, quer no que se refere ao reconhecimento profissional, quer na comercialização dos seus produtos. Com o objetivo de atender as necessidades destes profissionais, a SUTACO desenvolve ações e presta serviços, que visam organizar e fortalecer o artesanato, que integra parte da economia brasileira, além de revelar e preservar a cultura e a tradição do povo paulista.
A SUTACO, após avaliar, classificar e quantificar o artesanato emite a Carteira de Identificação de Artesão, credenciando-o como profissional de artesanato. Esse cadastramento possibilita a utilização dos serviços de emissão de nota fiscal, divulgação, apoio à comercialização, exportação, consulta à biblioteca especializada, acesso ao microcrédito, com financiamento do Banco do Povo e orientação técnica e jurídica

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