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sábado, 11 de fevereiro de 2012

ENTREVISTA THOMAS COHN - Folha de São Paulo


São Paulo, quarta-feira, 01 de fevereiro de 2012
Ilustrada
Ilustrada

ENTREVISTA THOMAS COHN
'Outros tomaram o meu lugar, não faço mais falta'
SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO
MARCHAND QUE LANÇOU ADRIANA VAREJÃO, LEDA CATUNDA E LEONILSON CONTA POR QUE DECIDIU FECHAR SUA GALERIA APÓS 30 ANOS
Thomas Cohn, marchand que lançou artistas como Adriana Varejão e Leonilson, está fechando sua galeria.
Nos anos 80 e 90, esse alemão que se radicou no Brasil em 1962 manteve uma das casas mais poderosas no mercado que começava a se erguer no país. Além das descobertas nacionais, expôs estrangeiros como a fotógrafa norte-americana Diane Arbus e o britânico Tony Cragg.
Aberta no Rio em sociedade com sua ex-mulher, Myriam Cohn, em 1983, a Thomas Cohn se mudou para São Paulo em 1997, depois que a crise da era Collor devastou o mercado de arte. Sem condições de competir num contexto mais acirrado, a galeria perdeu sua força.
Cohn lembra a dificuldade nas relações com galeristas como Marcantonio Vilaça e Luisa Strina, o rompimento com Adriana Varejão e o prejuízo que teve ao expor Leonilson pela primeira vez.
Em entrevista à Folha, ele reconhece que fecha a galeria sem ter ficado rico e diz que não se arrepende. Leia a seguir trechos da entrevista feita em seu apartamento no Itaim Bibi, em São Paulo.
Folha - Por que decidiu fechar a galeria Thomas Cohn agora?
Thomas Cohn - Quando abrimos, a ideia era que não fosse algo comercial convencional, mas um centro cultural que se autofinanciasse. Expusemos artistas de quase todos os países latino-americanos, lançamos Leonilson, Leda Catunda, Adriana Varejão. Fomos os primeiros a fazer uma feira internacional.
Nossas metas foram realizadas. Hoje não me vejo com a possibilidade de buscar novos meios porque essas propostas estão cumpridas.
Chega o momento de fazer uma autocrítica. Sinto hoje que estamos condenados a repetir uma mesma receita. Se eu não puder mais criar, atravessar novos desafios, nada disso se justifica.
Não somos mais a galeria de referência, somos só mais uma galeria. Outras galerias já tomaram o meu lugar. Não faço mais falta ao mercado.
Como vê o mercado hoje?
Muita gente compra com os ouvidos e não com os olhos. Ouviu dizer que faz sucesso, que vale muito e compra. Isso prejudica a qualidade no circuito artístico. Ter muitas galerias atuantes é bom, mas tem o outro lado: não há tantos artistas excelentes para suprir tantas galerias.
Sua mudança para São Paulo, no fim dos anos 90, foi uma transição difícil. Como ficou a relação com outros galeristas?
Tivemos uma relação bastante azeda com o Marcantonio Vilaça. Ele interferiu bastante com artistas que estavam conosco, tinha mais possibilidades econômicas.
Levamos a Luisa Strina para a primeira feira internacional dela, em Colônia, e depois ela estava no júri que nos rejeitou na Art Basel Miami Beach. É essa questão de quem é colega e quem é concorrente. Tenho um ponto de honra, que é nunca ter tirado um artista de outra galeria.
Por que rompeu com Adriana Varejão? Como se sente hoje diante do sucesso dela?
Ela é a maior pintora do país, eu a considero extraordinária. Mas tivemos um desentendimento pessoal, uma discussão feia. Foi uma atitude deplorável da parte dela.
E como foi expor Leonilson pela primeira vez?
Ele me mostrou uns desenhos, e eu não tive dúvida. Foi instantâneo, vi que era um artista excepcional.
Mas causou o maior prejuízo da minha vida. Quando fiz a exposição, perdi Sérgio Camargo, Tunga, José Resende, Carlos Vergara. Todos saíram da galeria porque achavam que expor um desconhecido não combinava com exposições de artistas que já tinham um nome. Esse foi um golpe muito sério para nós.
Que lições você aprendeu em quase 30 anos no mercado?
Eu não vou sair rico dessa minha empreitada e não me arrependo de nada. Sei que minhas exposições numa galeria de dois andares na avenida Europa dão prejuízo. Fizemos exposições deficitárias com frequência, mas a galeria manteve uma integridade artística. Nunca exporia um artista cuja obra eu não teria na minha sala em casa.
Tinha uma visão idealista do mercado, que estava bastante equivocada. As galerias se sustentam vendendo arte. Eu queria algo como um centro cultural, mas eu paguei essa conta. Tem uma despesa que é inimiga das ideologias, e tentar conciliar uma coisa com a outra foi a coisa mais difícil de tudo isso.
Conseguiu construir uma boa coleção pessoal?
Não tenho coleção, tenho quadros. Minha coleção eu vendi para abrir a galeria.

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrada/23296-outros-tomaram-o-meu-lugar-nao-faco-mais-falta.shtml

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