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(Maria Regina Pinto Pereira)

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quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Caciporé Torres - destruído o painel na Rua Haddock Lobo






No ultimo dia 12 foi destruído um painel do consagrado escultor Caciporé Torres, que constituía a fachada de uma galeria de arte na R. Haddock Lobo. O artista, que foi tema da minha tese de doutorado defendida em junho deste ano (ECA USP), tem dezenas de obras espalhadas por São Paulo. Gostaria que Veja SP publicasse o ocorrido, e dessa forma conscientizar os leitores sobre o grave problema da destruição do nosso patrimônio artístico, infelizmente frequente na nossa cidade.
Estou enviando abaixo textos sobre a ocorrência, sobre a obra e sobre o  artista e imagens anexas, de minha autoria.

Atenciosamente,
Profa. Dra. Flávia Rudge Ramos
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Universidade Mackenzie
RG: 10876796
Av. Nove de Julho, 3183 – 114
01407-000 São Paulo



Sobre Caciporé
Escultor e professor universitário nascido em Araçatuba (SP), iniciou sua carreira artística aos 17 anos ao participar do XII Salão Sindicato dos Artistas (1948). Em 1951, recebeu, na 1ª Bienal de São Paulo o premio “Viagem a Europa”, e a “Medalha de Ouro” no I Salão Paulista de Arte Moderna. Na década de 50 estudou desenho na Académie de La Grand-Chaumière e História da Arte na Sorbonne (Paris – França). Participou ainda de outras sete edições Bienal de São Paulo, tendo sido premiado em outras três bienais. Participou da XXVI Bienal de Veneza, da Quadrienal de Roma e da Bienal Jovens de Paris. Foi professor de escultura da FAAP (1961 a 1971) e da Faculdade de Arquitetura do Mackenzie. Expôs individualmente no MASP, MAM SP e MUBE, e em diversas galerias do Brasil e do exterior. Foi eleito duas vezes “Melhor Escultor” pela APCA (1980, 1982) e em 2009 recebeu homenagem da ABCA. Possui obras nos acervos dos principais museus do Brasil. Com intuito de levar sua obra a um público mais amplo e de integrar a arte à arquitetura e ao espaço urbano, estabeleceu parcerias com prefeituras, arquitetos, urbanistas e construtoras. Possui aproximadamente 80 obras em espaços públicos de diversas cidades do Brasil. Em 2011 foi artista convidado pelo governo italiano para participar de viagem e exposições itinerantes relacionados às comemorações do ano da Itália no Brasil.

Sobre o painel
Extraído de: Ramos, Flávia Rudge, Caciporé: A Plástica do Aço, tese de doutorado, ECA USP 2012

O trabalho realizado pelo artista na Galeria Arte Vital representa o desdobramento da pesquisa da escultura integrada à arquitetura para a escultura como arquitetura e vice versa. Tudo começou em 1990, quando Caciporé foi procurado por um dos seus mais dedicados ex-alunos, o arquiteto Flávio Miranda Nogueira (1965), para contar seus planos de transformar um imóvel de família em São Paulo, na valorizada Rua Haddock Lobo, na quadra situada entre a Rua Oscar Freire e Alameda Lorena, numa loja de doces caseiros. Caciporé aconselhou Flávio a utilizar o imóvel para alguma atividade ligada à profissão de arquiteto, talvez uma galeria de arte e design[1].
O jovem arquiteto entusiasmado com a ideia convidou o mestre para ser seu  sócio. Assim surgiu a Galeria Arte Vital, cujo nome foi inspirado pelo livro de Mario Pedrosa, Arte Necessidade Vital (1949) [2]. A ousada estratégia projetual de Flávio e Caciporé procurou destacar e dar identidade a galeria, erguida num pequeno lote ocupado anteriormente por uma casa geminada, cuja frente media menos de quatro metros de largura. Foi então que, sete anos antes de Frank Gehry (1929) levar, com suas formas curvas revestidas de titânio, a linguagem escultórica para a arquitetura, afastando – desusadamente - a forma da função, no museu Guggenheim de Bilbao (Espanha), Caciporé transformou a estreita fachada da galeria, num grande painel escultórico repleto de curvas, cilindros e movimento, feito inteiramente de aço inoxidável, material resistente à corrosão e de uso inédito na construção civil em São Paulo.

Observa-se neste projeto o abandono de algumas práxis da arquitetura e o detrimento da tecnologia e do trabalho mecânico, pelo trabalho manual do aço inoxidável, material de uso industrial; para alcançar um resultado futurista. Desta forma, a distância que separa o projeto da construção foi encurtada, assim como não há divisão de papéis entre autor e construtor. O espaço da galeria foi planejado para abrigar uma sala de exposições  com     pé-direito duplo na frente, e, nos fundos, um lavabo, escada, um mezanino onde ficava o escritório, e um pequeno jardim para o qual estavam voltadas as janelas. O projeto do painel da fachada foi moldado no canteiro de obras, pelo próprio artista e seus assistentes, a partir de desenhos feitos a mão livre, sem um planejamento geométrico-descritivo dos volumes curvos do painel, de modo que o trabalho final seria inesperado e impreciso. 

O painel de aço acima da vitrine e da entrada de vidro, que é o principal elemento arquitetônico da fachada voltada para a face oeste, protege o espaço interno do calor excessivo causado pela intensa insolação do período da tarde. Foi construído sem que houvesse uma parede que lhe servisse de suporte; tendo como apoio uma viga metálica cujo perfil foi calculado para suportar a carga do painel e transferi-la para os pilares localizados nas extremidades[3].
A construção do painel foi feita em partes, com pequenos pedaços de aço inoxidável de formatos irregulares no atelier do artista durante cerca de três meses, e depois montadas no seu local definitivo, trabalho que levou cerca de um mês para ser concluído. Como o painel foi construído com duas peles, de modo a proteger o interior da galeria de qualquer tipo de infiltração; é visível também no espaço interno. A galeria foi inaugurada em 30 de outubro de 1990 com uma exposição de 18 esculturas e 20 desenhos de Caciporé. A sociedade estabelecida entre o artista e seu antigo professor durou cinco anos, durante os quais a galeria vendia móveis desenhados por ambos, obras de arte e promoveu exposições de sucesso como a do próprio Caciporé e outra do pintor Gustavo Rosa (1946)[4]. Atualmente funciona no local o escritório de arquitetura de Flávio Miranda.


[1] Depoimento de Caciporé à autora em 22/01/2010, São Paulo, SP.

[2] Depoimento de Caciporé à autora em 22/01/2010, São Paulo, SP.
[3] Segundo observação no local em visita realizada em 11/06/2008 e depoimentos de Flávio Miranda Nogueira (11/06/2008) e Caciporé (22/01/2010), São Paulo, SP.
[4] Depoimento de Caciporé à autora em 22/01/2010, São Paulo, SP.

2 comentários:

Flávia Rudge Ramos disse...

Descobri essa publicação por que foi citada por um aluno. Gostei muito do blog, parabéns!
Flávia Rudge Ramos

Maria Pinto disse...

Muito obrigada, Flávia.
Quando tiver algum conteúdo ligado às artes visuais, me mande um email que eu coloco no blog.
boa semana

MaRegina