Vik Muniz espera "chave de ouro" na festa do Oscar
Após indicação de "Lixo Extraordinário", artista sonha em ver catador no "pódio'
Em cartaz em 11 salas no Brasil, filme rodado no lixão foi premiado nos festivais de Sundance, Berlim e Rio de Janeiro
SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO
Quando viu seu retrato assinado pelo artista plástico Vik Muniz ser vendido por 34,8 mil (R$ 92 mil) num leilão em Londres, em 2009, o catador de lixo Sebastião Carlos dos Santos, o Tião, perguntou-se quando terminaria sua vida de Cinderela.
Tião ganhou uma prorrogação ontem, com a indicação ao Oscar de "Lixo Extraordinário", documentário sobre a obra de Muniz do qual participa.
Ele é um dos catadores do Jardim Gramacho, no Rio de Janeiro, tema de uma série de fotografias de Muniz que estão hoje entre as mais valorizadas em sua carreira.
"Lixo Extraordinário", filmado enquanto Muniz produzia suas fotos, põe em perspectiva a trajetória do artista paulistano pobre, filho de retirantes nordestinos, que acabou se radicando em Nova York e virou estrela da arte contemporânea.
"ESTAREI LÁ"
"Estarei lá [na festa do Oscar], mas quem deve subir ali no pódio se o filme ganhar é o Tião", disse Muniz à
Folha. "Isso para mim fecharia esse projeto com chave de ouro, fazer alguém que sai de Duque de Caxias ser visto por 1 bilhão de pessoas."
Em cartaz atualmente em 11 salas no país, o filme acumula prêmios no circuito internacional de festivais -Sundance, Berlim e Rio.
"Acho isso fascinante", disse o codiretor do filme João Jardim sobre a indicação ao Oscar. "Mostra que a arte influencia as pessoas e é isso que fascina o público."
O documentário tinha tudo para ser uma "catástrofe", nas palavras de Muniz.
Lucy Walker, a britânica que assina a direção, deixou o projeto pela metade e só voltou para fazer o corte final, editando o material gravado no Rio de Janeiro pelos dois codiretores brasileiros, Jardim e Karen Harley.
Muniz reconhece que o filme tem sido mais bem acolhido pelo público do que entre críticos. "Prêmio de crítica é muito subjetivo, depende de onde está a sensibilidade da pessoa", afirma. "Mas é mesmo um filme bonito."