eduardo verderame
zona detenção
Como um papel de parede, o fundo reveste o espaço tornando-o homogêneo e ordenado (aliás, parecendo expandir-se além dele). A padronagem listrada evoca o popular e o cotidiano – a lona do circo, a barraca do feirante. Sobrepostas a esse fundo all over, figuras militares ressaltam por sua escala avantajada e, mesmo quando fragmentadas, remetem à visão confusa do pedestre surpreendido em meio à tropa montada em ação. Fundo e figura são, no trabalho de Eduardo Verderame, pintura e mundo.
Ambivalências permeiam Zona detenção: o fundo impessoal, objetivo e padronizador elaborado por um gestual feito mecânico, que simula
a aparência do produto industrial, contrasta com o traço marcante das figuras reproduzidas em vinil, ou seja, tornadas produto pela impressão que planifica volumes e confere uma aparência sem ruídos.
Os paramentos que caracterizam a polícia montada – o colete à prova de balas como uma armadura, a proteção nos braços e pernas, o capacete com visor que cobre o rosto – despersonaliza os indivíduos, uniformiza-os, enfatizando o caráter de autômatos armados. Da mesma maneira, aproxima-os de figuras de um outro tempo, espécie de cavaleiros medievais organizados em nome da ordem. Não é possível esquecer ainda o retrato eqüestre, que, se tradicionalmente laudatório do caráter heróico do retratado, aparece agora como registro de soldados inidentificáveis – embora o status de agentes do poder dominante permaneça.
O trabalho retoma a história dos edifícios que atualmente abrigam a instituição para a qual foi elaborado. Entretanto, não é preciso conhecer o episódio de 1968 – quando a repressão policial a um confronto entre estudantes nessa área acarretou a morte trágica de um deles – para que se perceba a narrativa que propõe Verderame ao apontar na contemporaneidade a permanência da violência que marcou o passado. Somos todos convidados à contemplação nessa incômoda sala de estar, onde a estratégia de articulação entre elementos de natureza distinta, estranhos em sua justaposição, parece falar de disciplina e subordinação, lembrando-nos de que o presente é continuidade – embora o passado tenha se transfigurado, neste caso, no ambiente protegido do espaço de arte.
Ambivalências permeiam Zona detenção: o fundo impessoal, objetivo e padronizador elaborado por um gestual feito mecânico, que simula
a aparência do produto industrial, contrasta com o traço marcante das figuras reproduzidas em vinil, ou seja, tornadas produto pela impressão que planifica volumes e confere uma aparência sem ruídos.
Os paramentos que caracterizam a polícia montada – o colete à prova de balas como uma armadura, a proteção nos braços e pernas, o capacete com visor que cobre o rosto – despersonaliza os indivíduos, uniformiza-os, enfatizando o caráter de autômatos armados. Da mesma maneira, aproxima-os de figuras de um outro tempo, espécie de cavaleiros medievais organizados em nome da ordem. Não é possível esquecer ainda o retrato eqüestre, que, se tradicionalmente laudatório do caráter heróico do retratado, aparece agora como registro de soldados inidentificáveis – embora o status de agentes do poder dominante permaneça.
O trabalho retoma a história dos edifícios que atualmente abrigam a instituição para a qual foi elaborado. Entretanto, não é preciso conhecer o episódio de 1968 – quando a repressão policial a um confronto entre estudantes nessa área acarretou a morte trágica de um deles – para que se perceba a narrativa que propõe Verderame ao apontar na contemporaneidade a permanência da violência que marcou o passado. Somos todos convidados à contemplação nessa incômoda sala de estar, onde a estratégia de articulação entre elementos de natureza distinta, estranhos em sua justaposição, parece falar de disciplina e subordinação, lembrando-nos de que o presente é continuidade – embora o passado tenha se transfigurado, neste caso, no ambiente protegido do espaço de arte.
Ana Cândida de Avelar (curadora)
29 de novembro a 10 de março de 2013