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escolhidos por MARIA PINTO
(Maria Regina Pinto Pereira)

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segunda-feira, 6 de maio de 2019

exposição atacamachaça - Marco Buti

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A partir de 0 hs de 6 de maio de 2019, considera-se inaugurada a exposição atacamachaça em marcobuti.com.br




Quando, em 1540, a primeira galeria de arte foi instalada em Antuérpia, a estampa multiplicada impressa no Ocidente já tinha pelo menos 150 anos, o primeiro livro tipográfico mais de 80, e redes de circulação legais e ilegais operavam de maneira bem organizada na Europa. A cidade era também o maior centro de distribuição de estampas. Séculos antes das preocupações com um maior acesso à arte pela sociedade em geral, o problema já estava resolvido.
Hoje, com maior razão, apresentar um trabalho artístico por meios múltiplos não pode ser considerado menos importante que a exibição de exemplares únicos em locais específicos. “atacamachaça” é um projeto em desenvolvimento, sem previsão de término, onde uma única matriz em metal vai sendo gravada, apagada, impressa, regravada, reimpressa. Sua apresentação se inicia na rede, sem negar a possibilidade de exposições em espaços fixos, mas ignorando onde e quando. Novas imagens irão se somando, sem preocupação excessiva com a qualidade das digitalizações, vistas em telas das mais diferentes características, fora de qualquer controle. A imprevisível qualidade de cada olhar é mais decisiva. Não há qualquer intenção de desvalorizar o contato com a obra de arte original, em local definitivo ou temporário - momento privilegiado. Mas não podemos esquecer que a imagem múltipla e móvel pode ser um original, sem remeter-se constantemente a uma ausência. Que o contato mais constante e o estudo das obras artísticas se dão muito mais através de reproduções que pelos originais. Que o primeiro contato com as artes visuais é quase sempre pela imagem multiplicada. Que a produção de originais é largamente influenciada pelas reproduções. Que não basta continuar aplicando um pensamento pré-industrial numa época pós-industrial, supondo que a obra única, esteja onde estiver, tem a potência de afetar “o público”, na verdade restrito pelas próprias condições: unicidade, lugar específico e imobilidade, sem falar nas diferenças sociais, ainda mais determinantes. Que a noção de espaço público entendido como lugar físico, começou a se tornar insuficiente com a multiplicação da imagem e do texto, há mais de seis séculos. Que o trabalho multiplicado é muito mais político. Que realmente amar a arte significa desejá-la próxima. Com a primeira galeria, abria-se para o artista a possibilidade de apresentar seu trabalho sem depender necessariamente de encomendas. Há algum tempo, nem todos, mas a maioria, podem exibir e receber qualquer coisa, a qualquer hora, em qualquer lugar. Talvez agora tenha chegado para o artista o momento de reaprender a ser Qualquer Um. O destino da imagem artística será perder-se no caos de imagens, aguardando um olhar que a reconheça?



      Marco Buti


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