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(Maria Regina Pinto Pereira)

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domingo, 7 de agosto de 2011

MARY CARMEN e a poética dos volumes


Mary Carmen e a poética dos volumes.
Jacob Klintowitz


O equilíbrio e a elegância das esculturas de Mary Carmen Matias emocionam porque são capazes de mostrar o magnífico desenvolvimento da linha e a sua transformação em volume, a criação do espaço e o nosso envolvimento neste universo subitamente inventado. No período anterior, o dos volumes compactos, já se notavam estas qualidades. No atual, o do vôo no espaço, esta característica se tornou mais evidente e a sua escultura aproximou-se, cada vez mais, da luminosidade poética da linha.


A escultora Mary Carmen pertence a uma estirpe rara de artista, pois constituída por duas linhas quase impossíveis de se cruzarem e que são os fundamentos de sua atuação. A primeira destas linhas é a própria essência do seu fazer, o cerne de sua natureza sensível. Mary Carmen tem a imediata intuição da forma, como se a percebesse holograficamente. Esta intuição tem para ela a certeza de uma verdade longamente buscada, é o núcleo encontrado, eliminadas todas as outras vertentes. É o que confere serenidade ao seu caminho. E o seu trabalho consiste, a partir desta visualização, em desenvolver virtuosamente a forma no espaço e em viabilizá-la tecnicamente: equilíbrio material, escolha de suportes adequados, criação de moldes e a passagem por fundições.

A segunda linha constitutiva de sua atividade tem uma verificação inicial de caráter histórico. Mary Carmen Matias é uma artista tardia, ou seja, torna-se artista, exerce a sua atividade, incorpora os procedimentos, o aprendizado, as dúvidas e a dedicação integral, já numa idade madura. Existem muitos exemplos na história das artes e na literatura de artistas tardios. Habitualmente o destaque, ainda mais na nossa sociedade de espetacularização, se dá aos prodígios precoces, como são os casos de Amadeus Mozart e de Pablo Picasso. Um artista de extração tardia traz para a sua atividade o conhecimento do mundo, a experiência da meditação, o domínio dos sentimentos e a discriminação entre o fundamental e a superficialidade.

A combinação da intuição fulminante e do início tardio cria uma inviável constelação que, contudo, existe. A intuição produz artistas muito jovens, destemidos, impulsionados por esta força magnífica. É anterior a racionalidade. É puro Dioniso. A serenidade produz artistas equilibrados, severos, essenciais. É o mundo de Apolo. Na obra de Mary Carmen Matias temos esta atração superior, a união de Dioniso e Apolo.

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