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escolhidos por MARIA PINTO
(Maria Regina Pinto Pereira)

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quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Batepapo com Evandro Jardim na mostra Ver a Cidade - Oficina Oswald de Andrade (SP)











Dia 1/10, sábado, às 15:00h, teremos um batepapo com Evandro Carlos Jardim, dentro da programação de encontros da mostra VER A CIDADE. Abaixo texto de autoria do artista Evandro sobre a relação entre arte/local na obra do pintor Benedito Calixto. Um subsídio a mais para essa conversa. Venha, participe, divulgue!

Benedito Calixto
Evandro Carlos Jardim 

Como se fossem linhas convergentes ou fios de uma mesma trama: de um lado as expressões do meio natural, a cidade de São Paulo, o planalto e a serra, a mata resistente densa e escura, envolta em quase permanente neblina. São muitas vistas que se desdobram em direção ao mar: outras cidades, praias, restingas, vales e florestas exuberantes ao longo da costa ou voltadas para o interior na mesma direção ou em sentido inverso, na extensão do litoral. Os caminhos do mar, os lugares de onde se vê o mar. Lá embaixo, na raiz da serra, a mancha extensa do mangue que se alonga por entre a vegetação rasteira de árvores pequenas e raízes em arco, o lodo pesado, as marés vazantes, a terra salobra quente e úmida. Conchas e cal nos subterrâneos das antigas trilhas. O ar recende a sal. Em opo¬sição, o estilo. A iconografia de Benedito Calixto e seu significado plástico, mensagem estudiosa e sensível, entre as representações do que existe e uma luminosidade interior raramente percebida. No relato imaginário, a tentativa de apreendê-la em sua força e meio; na simplicidade erudita de seu caráter, na eventual associação de imagens, e em fragmen¬tos dispersos que acordam os sentidos e animam a memória.
A cor e a densidade líquida de um porto pequeno de horizonte baixo. Verde e laca alizarina/ ou vermelho de cádmio rebaixado, na dimensão das harmonias e contrastes tonais; a plástica absorve por completo o assunto. Um movimento pendular em todas as vistas do antigo porto de Santos e na composição de muitos retratos. Doze dias de viagem rio acima; o brilho do vidro na linha d'água. As cores fortes, simples e puras na pintura decorativa dos forros de madeira pintada. Santos. Sáo Vicente. Em dois quadros, dois pequenos retângulos estreitos e alongados, a figura perfeita da água parada e do espelho d'água. Os arcos do claustro do antigo convento em ruínas, no fundo móvel azul profundo. Manhã clara. A claridade se transfigura na tinta branca da faixa recém-pintada no passeio. A cor está em nossa mente. É possível que, de algum modo, a luz trans¬cenda esta verdade. Em sua pintura, mesmo na diversidade dos motivos, vem sobreposta do fundo do quadro, na sequên¬cia das escalas tonais. Constante e rarefeita na matéria, retém o tempo e ganha os espaços no perfil discreto e calmo de sua topografia anímica. Um princípio de construção pictórica que se estende ao desenho, ao bico de pena e às aguadas. Ao modo de ser e sentir. Pintura lisa voltada para a ilusão do natural, traduz com fidelidade o objeto de sua escolha, registra sua história. Entretanto a emoção não se perde. Plena de força contida e brilho, parece encontrar nos assuntos do mar e na experiência impressionista de todos os tempos o momento de sua expressão maior: a conversão cor-luz. Luz intensa e fugidia, sem parâmetros, como a destes trópicos.

(texto extraído do catálogo da exposição “Benedito Calixto:Memória Paulista”, Pinacoteca do Estado de São Paulo, 1990)

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