Seis artistas franceses são acolhidos em um intercâmbio internacional no Estudio Dezenove. No percurso histórico dos artistas no combate pela autonomia, desde os anos oitenta do século passado, na França - abertura dos ateliers ao público, criação de coletivos e associações, regras de profissionalização - encontramos também as lutas artísticas de Santa Teresa. Lembramos os primeiros vínculos pelo ano de 2002 entre o Estudio Dezenove e a Associação dos artistas do bairro de Belleville, em Paris.
Uma página de jornal e um desenho sobre esta página; o desenho em tinta nanquim e pastel seco desafia nossos hábitos visuais, exerce um poder de atração, tem uma beleza plástica na sua planaridade. Em seguida, e de outra maneira, na obra de Christophe Gosselin, observamos que na página de jornal, um anúncio ou uma foto, adquirem um estatuto artístico que engendra um desenho. Em escalas distintas o desenho é uma materialização possivel do anúncio – uma opção formal ao anúncio – mas sua visualização, engendramento, é uma relação em dois momentos – um movimento. O anúncio da página do jornal permite uma série, repetição, narração, illustração, funda uma apropriacão – alternativa ou retorno – e a secundarização do desenho.
Na placa do jogo de Catherine Olivier, os movimentos dos cubos nos convidam a intervir no percurso das imagens que exploram relações plásticas e narrativas e liberam sentidos possíveis nas informações. Em seu caráter inesperado e inacabado, a obra aberta nos coloca em questão.
No vídeo de Sarah Dugrip a realidade se observa como imagem de universos coabitados sem unidade, interior e exterior, numa construção acumulativa, “fatos que passam e se entrecruzam com o gesto desenhado” no vapor da janela como tela intermediária. A imagem em movimento revela a presença, na mão que desenha e nos passantes do cais.
Nas fotos de Béatrice Desrousseaux, um ramo de samambaia, sempre o mesmo, tênue e frágil. Mas em seu íntimo aparecer, a alma se declina à luz das sombras, no ato de ver.
As instalações, performances, fotografias, vídeos, de Annie Barel utilizam formatos e suportes diferentes; gêneros diversos de escritura enriquecem sua matéria, numa profusão inesgotável de experiências, variações dinâmicas, em evocações sensoriais. Bustos transparentes, enormes colagens de corpos fragmentados e recompostos, estirados e cruzados com outros corpos… Verdadeiros atos de sentir que evocam a plenitude de uma relação - uma ação particular de uma artista mulher em direção aos corpos masculinos - numa evocação da sua sensualidade.
Abigail Nunes apresenta imagens em duas técnicas, gravura sobre linóleo e uma experimentação gráfica a partir de placas de gravura com o uso de carborundum. Sua pesquisa propõe uma aposição à sua série Um e outro, onde se revela a expressão corporal de dois personagens cada um no seu mundo e juntos, num traço sem compromisso com o real, onde se afrontam transgressão e rapidez. Movimentos ambivalentes e transversais mudam constantemente de territórios e reciclam a interioridade de sua reflexão.
Conversas Cruzadas trata, em sua origem, de uma história coletiva com a inscrição de lugares novos próximos de seus pares – Arte de Portas Abertas - de desenvolvimento e de cruzamento de experiências, concernendo a visibilidade na arte contemporânea numa convergência de todas as problemáticas das artes visuais, num trabalho de mediação e ação cultural e ao mesmo tempo de interpelação das hierarquias criadas pelas instituições. Em um mundo financiarizado que destrói as solidariedades essa enunciação coletiva quer ser partilhada aqui em uma ação diversificada de criação na obra singular de nossos seis artistas.
Maria Ivens
Paris, fevereiro de 2018
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