A artista negra brasileira Maria Auxiliadora da Silva foi vítima não apenas do preconceito, por ser mulher, negra e de origem humilde, mas também sofreu um longo e contínuo processo de esquecimento e apagamento, especialmente a partir dos anos 1980, quando a questão do "popular", onde ela havia sido inserida, passou a desinteressar o sistema de arte e a academia no Brasil.
O recente retorno da artista ao circuito de arte brasileiro foi impulsionado por uma exposição no MASP com 80 obras, mais a publicação de um livro com ensaios inéditos. Esse momento foi marcado pela emergência de trabalhos nos quais se manifestava uma postura combativa e de recusa.
Na produção artística de Maria Auxiliadora essa posição se revela primeiramente no plano da tela, tomado por uma figuração difícil e que não atende ao gosto comum. Apenas isso já colocaria a artista em um lugar bastante distinto daquele que se habituou chamar de "arte primitiva", "naïf" ou "popular", mas há ainda outra recusa fundamental: Auxiliadora resistiu a "aprender a pintar"; resistiu sobretudo ao "bem pintar", ao bom gosto mediano, afastando-se do elitismo que muitas vezes está atrelado a essa escolha.
Fernando Oliva é professor, curador e pesquisador, parte do comitê científico da Anpap (Associação Nacional dos Pesquisadores em Artes Plásticas). É doutor em crítica e história da arte pela Universidade de São Paulo e integra a equipe de curadoria do MASP (Museu de Arte de São Paulo), onde participou do projeto de exposição e publicação "Maria Auxiliadora: Vida cotidiana, pintura e resistência" (2018).
Entre os projetos recentes de que participou como curador, publicando ensaios nos respectivos catálogos das exposições, estão: "Arte da França: De Delacroix a Cézanne", "Arte Brasileira do Século 20", "Histórias da Infância", "Carla Zaccagnini: Histórias Feministas", "Thiago Honório (Trabalho)", "Pedro Correia de Araújo: Erótica", e "Maria Auxiliadora: vida cotidiana, pintura e resistência", todos no MASP.
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