Obras do artista mineiro ressaltam caráter festivo de recomeços após catástrofes e frustações; com entrada gratuita, exposição acontece no Centro Cultural Usina da Cultura, em Belo Horizonte, entre os dias 20 de janeiro e 25 de fevereiro
Instigado por um espirituoso prisma capaz de olhar as hecatombes do mundo e os momentos caóticos da vida de forma mais altiva, o artista visual mineiro Luiz Lemos inaugura a exposição “FESTA!”, aberta a partir do dia 20 de janeiro (sexta-feira), no Centro Cultural Usina de Cultura, em Belo Horizonte, com entrada gratuita. O trabalho traz pinturas e instalações de cores vibrantes, além de provocativas frases-poema, em uma composição artística que busca cultivar as formas festivas de lidar com os destroços pós-apocalípticos da condição humana. Durante a exposição, Luiz Lemos vai ofertar dois cursos e uma palestra online com a curadora Gabriela Carvalho e artistas convidados. As informações sobre datas e inscrições ainda serão divulgadas pelo artista em suas redes sociais.
O embrião da nova exposição de Luiz Lemos surgiu na pandemia, em seu núcleo familiar, no período rígido de restrições, quando o artista ficou isolado em uma casa com uma construção inacabada, repleta de entulhos e desordem. “Além de estarmos vivendo a pandemia, tivemos que tocar uma obra de construção abandonada por uma empreiteira que nos passou para trás. Afastado de quase tudo, mantendo apenas a família perto, mapeei que o modo de habitar o mundo de minha família é festivo, colorido e vibrante. Em ‘FESTA!’, olho para dentro de minha existência e de minha família em nossos modos e exalto-os como uma saída ao fim do mundo que vivemos coletivamente”, diz Luiz.
Motivada por essa forma de lidar com o fim do mundo, incluindo nesta definição desde as subjetividades miúdas até as grandes tragédias, “FESTA!” apresenta pinturas criadas com técnicas diversas, como acrílica e óleo sobre tela ou madeira, nas quais até as imagens soturnas da noite carregam toques solares de esperança. Isso porque as paisagens de Luiz Lemos conferem aos apocalipses uma vibrante euforia de tintas, responsáveis pela representação de céus sempre em festa, habitados por estrelas, luas e sóis de alegria, como uma exaltação de símbolos transcendentais que servem de abrigo para situações ásperas da vida.
“Nas ficções científicas que tratam de uma existência pós-apocalipse, as imagens são sempre devastadoras: prédios em escombros, poeira, radiação, abandono. Nessas mesmas ficções, o céu é refúgio para os que vivem no caos da destruição, O céu parece intocável e, por vezes, imutável. A vontade dessa paisagem celeste é olhar para cima, para o intocável e perene que dialoga e difere do caos terreno”, explica Luiz.
Além das pinturas, “FESTA!” expõe instalações que provocam mais questionamentos sobre as ruínas humanas, em cenários outra vez alimentados por cores marcantes. Em uma das obras mais chamativas, latas de tinta antes acinzentadas convidam o público a reparar velhos objetos de metal por uma perspectiva afetiva das cores, após serem tingidas com pigmentos nostálgicos, em referência, por exemplo, à época de ouro das pinturas automotivas psicodélicas, como as edições super verde do Ford 87 ou amarelo-manga do Fusca 71. Já em outra instalação, enxadas amarelas estão penduradas por cordas em uma telha verde, em nítida alusão à bandeira nacional, como espécie de representação direta dos necessários projetos de reconstrução do país.
“Essa relação de habitar um pós-apocalipse está diretamente ligado com nossa política contemporânea e com a esperança do que está por vir – vivemos por vários anos com uma antipolítica que afetou e afeta diretamente e diariamente nossas vidas”, justifica Luiz. “As instalações são compostas de agrupamentos de latas, telhas de amianto, materiais de construção, objetos achados e outros que permeiam minha vida, como objetos de coleções dos meus pais. O futuro que busco construir com os restos é um desejo de festa, um desejo de cor, de luz, de som e de intensidade”, completa o artista.
A exposição “FESTA” é realizada por meio da Fundo Municipal de Cultura, com design assinado pela artista Esther Az. O trabalho conta com um catálogo de imagens do processo criativo, além de textos do próprio artista, da curadora Gabriela Carvalho, dos curadores Eduardo de Jesus e Fabíola Rodrigues, com trechos redigidos com a caligrafia da mãe de Luiz Lemos, Fátima Lemos.
Sobre Luiz Lemos
Natural de Belo Horizonte (MG), Luiz Lemos tem graduação em Artes Visuais pela Escola de Belas Artes (EBA) da UFMG e mestrado em Estudos de Linguagem. Atuante há mais de 10 anos na cadeia produtiva das artes visuais, é idealizador e gestor da iniciativa cultural Casa Camelo.
Sua pesquisa se estabelece na integração de pinturas e instalações para criação de séries que esvaziam, repetem e conflitam símbolos cotidianos em busca de estabelecer um território visual que imagine uma paisagem após o fim do mundo, em um pós-apocalipse tropical com restos, cores, luas, estrelas e luzes.
Entre trabalhos individuais, realizou as exposições "FESTA!" (Usina de Cultura, 2022); Dias de Calor (CCUFMG, 2019); Dissol(vendo)Palavras (BDMG, 2017); Hiato (Memorial Minas Gerais Vale, 2016).
SERVIÇO
Abertura da exposição “FESTA!”, de Luiz Lemos
Onde. Centro Cultural Usina de Cultura (Rua Dom Cabral, 765 - Ipiranga)
Quando. De 20 de janeiro a 25 de fevereiro
Quanto. Entrada gratuita
Visitação. De terça-feira a sábado, das 9h às 17h. O agendamento para visitação de grupos com equipe educativa é feito pelo e-mail casacamelo.arte@gmail.com
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