Uma Crônica Munduruku
Fotógrafo Marcelo Oséas apresenta exposição fotográfica de aldeia indígena da Amazônia, com registros pigmentados com elementos naturais
Numa viagem ao coração da Amazônia, o fotógrafo Marcelo Oséas mergulhou no imenso mar de cultura da aldeia Munduruku localizada no Baixo Tapajós. Durante essa imersão ele estabeleceu uma relação prévia com a comunidade, respeitando as regras, instituições locais e principalmente, o tempo das pessoas. Assim Marcelo trouxe na bagagem muito mais que o simples dia a dia. As fotografias transmitem os valores da aldeia que sofre diversos tipos de pressão para a mudança de seu cotidiano. Com essa luta dos indígenas para a preservação de seus valores e forma de vida, construiu imagens em tons de crônica, simples e diretas.
Como faz da fotografia uma forma de contribuir para a preservação e divulgação das comunidades tradicionais, os registros da aldeia deram origem à exposição fotográfica “Uma Crônica Munduruku”, que acontece até o dia 18 de abril, em São Paulo. As imagens vividas e registradas por Marcelo fora, impressas e colorizadas manualmente com elementos naturais amazônicos, representando mais uma etapa de sua pesquisa fotográfica.
Além do objetivo de propagar a cultura da aldeia, a exposição nasce também com uma meta de vendas que, uma vez atingida, ajudará a construir a Escola de Cultura, Floresta e Medicina Munduruku. Essa escola atende a manutenção do ambiente de floresta da aldeia, assim como da cultura tradicional. Ao adquirir as imagens, todos terão a certeza de que ali se completa um ciclo, pois promoverão a conservação da história de uma das aldeias mais antigas do Amazonas. “É impossível mensurar o quanto um trabalho fotográfico realmente contribui para algum tipo de preservação (quando ele tem esse objetivo). E isso sempre me incomodou. Por isso entendo que para um trabalho fotográfico estar completo, ele necessita propor uma contrapartida direta, que gera uma preservação visível e, dentro das possibilidades, mensurável. E o projeto da Escola de Cultura, Floresta e Medicina Munduruku atende totalmente essa premissa”. diz o fotógrafo.
Aldeia Munduruku
Os Munduruku são de tradição guerreira. Foram assim denominados pelos Parintintins, um povo rival que estava localizado na região entre a margem direita do rio Tapajós e o rio Madeira. Este nome significa “formigas vermelhas”, fazendo uma alusão aos guerreiros Munduruku que atacavam em massa os territórios rivais. Como o povo mundurucu foi se dispersando e ocupando diferentes espaços geográficos, a situação sociolinguística é diversificada. Além do contato com as frentes de colonização em diferentes momentos da história. A maioria do povoado das pequenas aldeias às margens do Tapajós é bilíngue. Nas aldeias localizadas próximas aos afluentes do Tapajós, crianças, mulheres e idosos falam, na maioria das vezes, somente a língua materna. Já as aldeias do Mangue e Praia do Índio, localizadas na periferia da cidade de Itaituba, e nas comunidades da Terra Indígena Coatá-Laranjal, no Amazonas, a língua Munduruku passa por processo de desuso, perdendo espaço para o Português.
Durante o século XIX os indígenas dominavam culturalmente a região do Vale do Tapajós, mas atualmente lutam para garantir a integridade de seu território. Estão ameaçados pela pressão das atividades ilegais do garimpo, projetos hidrelétricos e a construção de uma hidrovia no Tapajós.
Uma Crônica Munduruku
O trabalho é uma associação das imagens com uma produção artística que reflete a busca por uma fotografia brasileira. E também como forma de manifestar a identidade da comunidade, para esta exposição Marcelo Oséas optou por colorizar as imagens com pigmentos naturais, todos vindos de florestas tropicais. “Neste trabalho eu aprofundei a pesquisa de materiais, trazendo para a estética das imagens a negação da nitidez, valores tipicamente comerciais no campo da fotografia, e incluindo elementos que convergem para o etéreo, valor muito presente na realidade indígena”.
As imagens foram impressas em PB via Fine Art. Para a pigmentação Marcelo usou as quatro cores da escala CMYK. A cor preta vem do carvão e do açaí. O magenta vem da folha de um cipó, o crajiru, muito encontrada na floresta Amazônica. Já amarelo será extraído da cúrcuma, também conhecida como açafrão brasileiro ou ainda mangarataia. E, por fim, o azul que vem do índigo natural.
Esse método de pigmentação vem de encontro com o processo de valorização da cultura indígena brasileira. “Eu busco através da fotografia mostrar saberes de culturas tradicionais, uma vez que pesquiso em meu cotidiano os processos pelos quais a sociedade de consumo, que estamos imersos, elimina ou assimila culturas tradicionais”.
Marcelo Oséas
Fotógrafo autoral, Marcelo reside na cidade de São Paulo. Estudou Ciências Econômicas pela Faculdade de Economia e Administração da USP (FEA-USP) e atuou por nove anos em grandes companhias brasileiras, assim como no terceiro setor. Migrou integralmente para a fotografia em 2012. Sua produção está relacionada às expressões artísticas autóctones Latino-americanas, assim como culturas tradicionais, como a indígena, caiçara e andina. Mantém como campo de pesquisa os processos de assimilação da sociedade de consumo dos elementos culturais nativos, com sua consequente integração ou eliminação.
Foi convidado a manter um portfólio vitalício no LensCulture Street Photography Awards. Em 2017 lançou seu primeiro livro, uma autopublicação intitulada "O Agridoce Agrestino". Em 2018 foi finalista do Prêmio Paraty em Foco com a fotografia intitulada "Iluminação", componente do livro.
Serviço:
Data: até dia 18 de abril
Local: Rua Professor Filadelfo Azevedo, 521
Entrada: Gratuita
Horário de visitação: das 14h Às 18h
Sábado e domingo: Visita com hora marcada
Tel: (11) 97995-1241
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