Premiado em Veneza, angolano Edson Chagas expõe em SP em mostra dedicada à África
SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO
DE SÃO PAULO
No Roque Santeiro, o mercado de rua gigantesco em Luanda, sacolas de todo tipo circulam levando mercadorias. Trazem inscrições em quase todas as línguas do mundo e são feitas de todo tipo de material, do plástico a tecidos mais ou menos rudes.
Edson Chagas, artista angolano que acaba de vencer o Leão de Ouro pela representação de seu país na Bienal de Veneza, fez uma série fotográfica em que se retrata com esses sacos na cabeça, cego ao horizonte e à lente.
"Você tapa a cabeça e perde o controle do que vai sair em termos de imagem", diz Chagas, em entrevista à Folha. "Quis criar algo que pudesse tocar na questão da economia e do consumismo."
Sua obra, aliás, agora chancelada por Veneza, chega a São Paulo turbinada por seu consumo no circuito global em "Transit SP", uma exposição de arte contemporânea africana que vai ocupar a Oca, no parque Ibirapuera, a partir do dia 20 deste mês.
Oca africana
Chagas, que é o primeiro africano e também o primeiro artista de língua portuguesa a vencer o prêmio de melhor representação nacional na mostra italiana, resume certa efervescência que há anos ronda a produção plástica do continente mais pobre e desigual do planeta.
E as obras desses artistas de Angola, Mali, Camarões, Nigéria, Marrocos, entre outros, não deixam de ser flagras mais ou menos contundentes de um território em transformação, em que identidades nacionais se constroem no rastro da saída dos colonizadores europeus, guerras e chacinas étnicas.
"Essas condições são desfavoráveis, mas também criam uma potência artística pulsante, que nenhum outro lugar está vivendo nesse momento", diz Daniel Rangel, curador da mostra na Oca. "É a potência de discurso que a gente tinha aqui nos anos 1970, a vivência frenética da busca de uma identidade."
Nessa busca, Samuel Fosso, espécie de Cindy Sherman camaronês, faz autorretratos em que encarna estereótipos bizarros do continente e da cultura pop global, alegorias ultracoloridas que desestabilizam a imagem surrada da África como terra miserável.
"Há uma estética que pergunta o que é ser africano", diz Chagas. "Pensamos muito em como somos vistos e como gostaríamos de ser vistos. Já não estamos mais presos a nenhum cânone estético."
Nem a condições econômicas estanques. Embora as extraordinárias animações do sul-africano William Kentridge sejam um protesto contra a falta de recursos --cada fotograma é desenhado na mesma folha, apagado e refeito na posição do próximo quadro--, uma nova e cosmopolita imagem da África parece emergir desses trabalhos.
Yinka Shonibare, britânico filho de nigerianos que já foi finalista do prêmio Turner em Londres, tem na mostra uma de suas instalações de manequins sem cabeça. Eles se matam vestindo supostos trajes africanos, só que fabricados na Holanda e rearranjados em cortes vitorianos.
É uma cena violenta sem sangue, da mesma forma que Mounir Fatmi, marroquino radicado em Nova York, retrata um dos momentos mais sangrentos da história recente, ao construir o "skyline" de Manhattan com caixas de som que trazem de volta a silhueta das Torres Gêmeas.
"Não existe mais aquela África do nosso imaginário", diz Rangel. "Não são homens descalços construindo essa linguagem contemporânea."
TRANSIT SP
QUANDO abre dia 20/7, de ter. a dom., das 9h às 17h; até 15/9
ONDE Oca (pq. Ibirapuera, portão 3, tel. 0/xx/11/3331-3813)
QUANTO grátis
QUANDO abre dia 20/7, de ter. a dom., das 9h às 17h; até 15/9
ONDE Oca (pq. Ibirapuera, portão 3, tel. 0/xx/11/3331-3813)
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