Peça do século XVII (à esq.) e oratório que decorou o quarto de João Paulo II no Brasil (à dir.): raridades
Exposição reforça as homenagens ao mestre Aleijadinho
por Raíssa Pena | 20 de Novembro de 2013
Novembro é um mês para nenhum fã de arte barroca botar defeito. Na segunda (18), a Assembleia Legislativa de Minas Gerais vai celebrar o Dia do Barroco Mineiro, lançar a edição póstuma do último número da revista Barroco, criada pelo poeta mineiro Affonso Ávila (1928-2012), e instituir a comissão curadora das comemorações do bicentenário da morte de Aleijadinho (1738-1814), o maior expoente desse estilo artístico no Brasil. O Museu de Artes e Ofícios entra no embalo dos festejos barrocos e exibe uma mostra gratuita de oratórios, objetos e outras imagens sacras produzidos entre os séculos XVII e XX. A exposição Oratórios Relíquias do Barroco Brasileiro conta com 115 peças pertencentes ao acervo do Museu do Oratório, instalado em Ouro Preto desde 1998. O destaque do conjunto é um "oratório de salão" que, como o nome indica, era usado nas salas principais das residências que decorou o quarto do papa João Paulo II em sua visita ao Brasil em 1997.Museu de Artes e Ofícios. Praça Rui Barbosa (Praça da Estação), Centro, ☎ 3248-8600. Terça e sexta, 12h às 19h; quarta e quinta, 12h às 21h; sábado, domingo e feriados, 11h às 17h. Grátis. Até 6 de janeiro de 2014.
Exposições: programação para os dias 16 a 22 de novembro
ÚLTIMA SEMANA
✪✪✪✪ Candido Portinari
Não se pode deixar de ver de perto a dupla de painéis Guerra e Paz, do célebre pintor de Brodowski (1903-1962). As visitas estão organizadas em sessões que apresentam um vídeo de dez minutos sobre a vida do artista antes de revelar os murais. Não se preocupe, pois a introdução não é entediante. Felizmente, as intervenções tecnológicas só potencializam a complexidade e a beleza dos traços da obra-prima de Portinari. No 7º andar ainda estão expostos mais de setenta estudos preparatórios e alguns documentos históricos da época de produção das telas monumentais (1952-1956).
Cine Theatro Brasil Vallourec. Praça Sete, Centro, ☎ 3201-5211. Terça a domingo. Sessões a cada hora, entre 10h e 19h. Grátis. Até domingo (24).
✪✪✪ A Magia de Escher
Mais de 165 000 pessoas passaram pelas galerias do Palácio das Artes e fizeram desta a mostra mais visitada de Belo Horizonte nos últimos dez anos. Conhecido por inserir truques e enigmas visuais em suas gravuras, o holandês Maurits Cornelis Escher (1898-1972) desenhou perspectivas ilógicas, paisagens espelhadas, edificações impossíveis e padrões geométricos surpreendentes. Na exposição foram reunidos mais de 85 desenhos, gravuras originais e fac-símiles desse pioneiro das artes gráficas. Também foram criadas instalações interativas que permitem ao visitante entender melhor as brincadeiras óticas imaginadas por Escher. Aproveite: é permitido fotografar dentro das galerias.
Palácio das Artes - Grande Galeria Alberto da Veiga Guignard, Galeria Arlinda Corrêa Lima e Galeria Genesco Murta. Avenida Afonso Pena, 1537, Centro, ☎ 3263-7363. Terça a sábado, 9h30 às 21h; domingo, 16h às 21h. Até este domingo (17).
✪✪✪ As Origens do Fotojornalismo no Brasil: um Olhar sobre O Cruzeiro (1940-1960)
O semanário, que circulou de 1928 a 1975, marcou a memória dos brasileiros e influenciou a maneira de fazer jornalismo impresso no país. Talvez a mais importante inovação do veículo tenha sido permitir que os ensaios fotográficos dividissem o protagonismo da página com o texto. Em mostra organizada pelo Instituto Moreira Salles, estão expostas cerca de 400 imagens, que retratam desde as incursões indígenas dos irmãos Villas Bôas até a vida privada de Carmen Miranda. Vale a pena subir ao mezanino para ver de perto três câmeras fotográficas usadas entre as décadas de 20 e 50 e a famosa reportagem de 1952 sobre a viagem de Guimarães Rosa pelo sertão mineiro.
Centro de Arte Contemporânea e Fotografia. Avenida Afonso Pena, 737 (Praça Sete), Centro, ☎ 3236-7400. Terça a sábado, 9h30 às 21h; domingo, 16h às 21h. Grátis. Até este domingo (17).
Paisagem Submersa
Em 2005, sete municípios do nordeste mineiro foram parcialmente inundados para formar o lago da hidrelétrica de Irapé, no leito do Rio Jequitinhonha. Durante o processo de instalação da usina, João Castilho, Pedro David e Pedro Motta registraram as pessoas, paisagens e memórias das 42 comunidades afetadas. As fotografias formaram uma narrativa bela e melancólica sobre o impacto da obra naquela região. Os três artistas decidiram doar à instituição dezessete imagens. Quinze serão exibidas gratuitamente até o fim do mês.
Museu Mineiro - Sala de Exposições Temporárias. Avenida João Pinheiro, 342, Lourdes, ☎ 3269-1103. Terça, quarta e sexta, 10h às 19h; quinta, 12h às 21h; sábado, domingo e feriados, 12h às 19h. Até sábado (23).
EM CARTAZ
✪✪✪✪ Amilcar de Castro - Repetição e Síntese
A nova mostra do CCBB traz um respeitável panorama da carreira do artista mineiro. Ao lado de Hélio Oiticica, Lygia Clark e Lygia Pape, Amilcar (1920-2002) é um ícone do movimento neoconcreto e tornou célebre a técnica de escultura em chapas de ferro que chamou de "corte e dobra". Ocupando todo o 3º andar e o pátio interno do prédio, a exposição, uma das maiores já realizadas no país, traz 500 obras, entre pinturas, desenhos, gravuras e esculturas. As peças vieram das três principais fontes do acervo do artista: o Instituto Amilcar de Castro e as coleções de Marcio Teixeira e Allen Roscoe.
Centro Cultural Banco do Brasil. Praça da Liberdade, 450, Funcionários, ☎ 3431-9400. Quarta a segunda, 9h às 21h (fecha às terças). Grátis. Até 27 de janeiro de 2014.
Binho Barreto
Os traços delicados do artista belo-horizontino estão em diversas vias públicas da cidade, mas não nas mais badaladas. Seu trabalho em grafite costuma ocupar paredes de fábricas abandonadas, vilas, escolas e muros em regiões periféricas da capital. Olhares melancólicos, atmosfera atemporal e uma visão crítica do modo de vida contemporâneo são marcas do trabalho de Barreto. Na mostra Nado Raso, ele exibe vinte desenhos recentes e fotos de grafites feitos nas ruas, além de imagens sobre seu processo de criação em estúdio.
Galeria de Arte do BDMG Cultural. Rua Bernardo Guimarães, 1600, Lourdes, ☎ 3277-4384. Todos os dias, 10h às 18h. Grátis. Até 1º de dezembro.
Elizabeth Jobim
Sim, ela é filha do cantor e compositor Tom Jobim (1927-1994). Mas há tempos o sobrenome famoso deixou de ser o fator mais relevante na carreira de Elizabeth Jobim. Aos 56 anos, a artista plástica carioca já expôs em importantes museus dentro e fora do país e, em Belo Horizonte, é representada pela prestigiada galeria Celma Albuquerque. Em seu novo trabalho, as cores chapadas e a brincadeira visual com o volume dos objetos saíram da tela e viraram uma instalação penetrável. Na mostra Blocos, a artista apresenta uma série de paralelepípedos de até 2 metros de altura. Pintados a óleo sobre madeira, os totens formam um grande labirinto que pode ser percorrido livremente pelo visitante. Tons vibrantes e terrosos se alternam com o branco e criam diferentes noções de volume.
Celma Albuquerque Galeria de Arte. Rua Antônio de Albuquerque, 885, Lourdes, ☎ 3227-6494. Segunda a sexta, 9h às 19h; sábado, 9h30 às 13h. Grátis. Até 14 de dezembro.
✪✪✪ GTO - 100 Anos
Geraldo Teles de Oliveira (1913-1990) foi um homem humilde que descobriu tardiamente sua vocação artística. Depois de trabalhar em plantações e até como vigia noturno de um hospital, GTO (como gostava de ser chamado) disse ter tido uma série de visões que o incitavam a fazer esculturas. Autodidata, começou a produzir entalhes em madeira aos 55 anos. Em totens, mandalas e peças de formatos variados, ele retratou figuras religiosas, festas e costumes mineiros. Em homenagem ao centenário de seu nascimento, o mestre ganha mostra de trinta obras de madeira e uma peça rara esculpida em pedra-sabão.
Centro de Arte Popular Cemig. Rua Gonçalves Dias, 1608, Funcionários, ☎ 3222-3231. Terça, quarta e sexta, 10h às 19h; quinta, 12h às 21h; sábado e domingo, 12h às 19h. Grátis. Até 29 de dezembro.
João Castilho
Na individual Caos-Mundo, o fotógrafo mineiro apresenta fotografias, vídeos e instalações recentes. Produzidos entre 2012 e 2013, os trabalhos abordam questões aparentemente desconectadas, como a relação entre homem e natureza, sequestros e escravidão. O artista explica, no entanto, que todos os temas tratam de violência e de conflitos visíveis e invisíveis. Em uma imagem da série Vade Retro, por exemplo, uma tartaruguinha que parece se debater de barriga para cima desperta sentimentos de impotência e agonia. Sensações parecidas são incitadas pela série de vídeos Morte Súbita, que mostram o sofrimento de reféns em telejornais. "Não sei fazer arte sem conteúdo político", resume Castilho. Ele também está em cartaz na cidade com a coletiva Paisagem Submersa, ao lado dos colegas Pedro Motta e Pedro David.
Funarte. Rua Januária, 68, Floresta, ☎ 3213-3084. Terça a sábado, 13h às 21h. Grátis. Até 6 de dezembro.
✪✪✪ Narrativas Poéticas
Com montagem e iluminação caprichadas, a mostra ocupa os três pisos do Museu Inimá de Paula com 89 obras de grandes nomes, como Candido Portinari, Emiliano Di Cavalcanti, Alfredo Volpi, Iberê Camargo, Manabu Mabe e Farnese de Andrade. No 2º andar, vale a pena demorar em frente à delicada aquarela de Kichizaemon Takahashi e ao óleo Terra e Lua, de Wega Nery. O destaque do 3º piso é a exuberância de três telas em vermelho de Tomie Ohtake. A oportunidade de ver de uma só vez tantos trabalhos importantes e significativos para a história da arte brasileira torna quase desnecessários alguns áudios e projeções colocados nos salões.
Museu Inimá de Paula. Rua da Bahia, 1201, Centro, ☎ 3213-4320. Terça, quarta, sexta e sábado, 10h às 19h; quinta, 12h às 21h; domingo, 12h às 19h. Grátis. Até 8 de dezembro.
✪✪ Ricardo Burgarelli
Na exposição América, Sacco e Vanzetti Não Podem Morrer, o artista apresenta intervenções feitas sobre reproduções de antigos jornais que noticiaram a condenação à morte dos anarquistas italianos Sacco e Vanzetti, nos Estados Unidos, em 1927. Na série Guerra dos Perdidos, ele se junta a Luísa Horta para produzir uma narrativa de guerra fictícia com base em textos, fotos antigas e outros objetos. Nos dois trabalhos é possível perceber a memória como fio condutor.
Memorial Minas Gerais - Vale (Sala de Exposições - 3º andar). Praça da Liberdade, s/nº, Funcionários (esquina com a Rua Gonçalves Dias), ☎ 3343-7317. Terça, quarta, sexta e sábado, 10h às 17h30; quinta, 10h às 21h30; domingo, 10h às 15h30. Grátis. Até 1º de dezembro.
✪✪✪ Tomie Ohtake
Nascida no Japão e naturalizada brasileira, ela é considerada a dama das artes plásticas no país e segue em atividade aos 99 anos de idade. Em homenagem a seu centenário, que será completado no dia 21, foram organizadas mostras em Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza e Salvador. Por aqui, cinquenta obras encontram-se montadas em ordem cronológica e ilustram diversas fases de sua carreira. Só o primeiro quadro é figurativo. O que se vê nas telas seguintes é o uso crescente e mais livre de manchas de cor e formas circulares, ovais e retangulares. No fim do corredor estão uma bela série de gravuras e, dependuradas no teto, cinco esculturas de ferro, quatro produzidas neste ano. Com 412 metros quadrados e uso inteligente da luz natural, paredes, piso e teto brancos, a galeria projetada por Paulo Pederneiras e Fernando Maculan é uma atração à parte.
Galeria de Arte do Centro Cultural Minas Tênis Clube. Rua da Bahia, 2244, Lourdes, ☎ 3516-1027. Terça a sábado, 10h às 20h; domingo, 11h às 19h. Grátis. Até 2 de fevereiro de 2014.
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