Listras, estrelas e gravuras
Um dos maiores nomes vivos da pop arte, o artista americano Jasper Johns exibe 70 obras em sua primeira exposição de fôlego no País
Nina Gazire
JASPER JOHNS – PARES, TRIOS E ÁLBUNS/Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, até 26/08
ÍCONE
Jasper Johns alcançou a fama com a série “Flags”,
que faz interferência na bandeira dos EUA
A iniciativa dos artistas americanos Robert Rauschenberg e Jasper Johns de incorporar imagens de revistas, jornais e objetos do dia a dia em suas obras foi, durante muito tempo, entendida como uma resposta à agressividade do expressionismo abstrato, estilo de pintura focado na expressão e nas pinceladas gestuais. A essa prática impessoal se deu o nome de pop arte, e no início da década de 1960 as galerias de Nova York foram tomadas por artistas do gênero, como, por exemplo, Andy Warhol, que se tornou uma espécie de porta-voz do estilo. Até os dias de hoje é atribuída a Rauschenberg e a Johns uma espécie de paternidade da pop arte. Ao longo dos anos, contudo, ambos os artistas seguiram caminhos separados, e dois anos após a morte de Rauschenberg, em 2008, Johns recebeu do presidente Obama a Presidential Medal of Honor, o mais alto galardão concedido pela Casa Branca. Anteriormente, apenas Alexander Calder havia sido homenageado postumamente com a condecoração, em 1977.
O grande motivo para tamanha honraria talvez não seja apenas a importância da obra de Johns, hoje com 82 anos, mas o fato de que foi por meio de suas mãos que um dos maiores símbolos da supremacia norte-americana tenha se transformado em obra de arte. Desde 1955, o artista vem se dedicando a pintar, serigrafar e até transformar em peça escultórica a bandeira dos EUA. “Jasper vai fundo nos objetos que escolhe como tema para suas obras. Os objetos pintados, retratados, arrancados de páginas de revistas não se esgotam e são retrabalhados enquanto existirem possibilidades de leitura variadas”, diz o curador Bill Goldston, que selecionou com Johns as 70 gravuras da primeira mostra solo do artista no Brasil, em cartaz no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo.
REPETIÇÃO
Na série "09", o artista faz um exercício com a mesma fonte tipográfica
Entre as obras não poderia faltar, claro, a “Star Spangled-Banner” (bandeira estrelada), nome dado à bandeira dos EUA, representada em sete diferentes versões. Denominadas “Flags”, as gravuras, realizadas entre 1960 e 1973, acompanham outros títulos abrangendo cerca de 40 anos de produção do artista. “A exposição foi pensada especialmente para o Brasil. Nesse contexto, a mostra pretende ilustrar o modo como Johns se apropria de uma imagem, transformando-a em algo diferente do original. Apresentamos apenas gravuras porque o artista não as entende como uma mera reprodução, mas como maneira de expressar suas ideias artísticas”, afirmou Goldston em entrevista à ISTOÉ, por telefone. Além dos 66 trabalhos individuais, estão quatro séries nas quais a repetição é trabalhada como forma de criação. Exemplo é a série de litogravuras “09”, em que se usa uma mesma fonte para fazer uma contagem de 1 a 9, em outro procedimento comum à pop arte. Mais recentes são os trabalhos realizados entre 1999 e 2001, quando o artista incorpora às gravuras em metal a mesma fotografia de uma família oitocentista.
Apesar da mostra não trazer nenhuma de suas pinturas, Johns figura no ranking dos 30 pintores mais caros do mundo. Uma de suas telas da série “False Start” (que também está na origem de algumas gravuras em exposição) foi vendida por US$ 80 milhões em 2006, até então o preço mais alto alcançado por um artista vivo. Atualmente, Johns vive em Conecticut, nos EUA, e continua produzindo.
MISTURA
Obra de 2001 que mescla fotos à gravura em metal
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